Si recuerdo quién fui, otro me veo,
y el pasado es el presente en el recuerdo.
quien fui es alguien que amo
aunque solamente en sueños.
Y la saudade que me aflige la mente
no es de mí ni del pasado visto,
sino de quien habito
detrás de los ojos ciegos.
Nada, salvo el instante, me conoce.
Mi propio recuerdo es nada, y siento
que quien soy y quien fui
son sueños diferentes.
26-5-1930
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). p. 119.
Texto original:
Se recordo quem fui, outrem me vejo, / E o passado é o presente na lembrança. / Quem fui é alguém que amo / Porém somente em sonho. //E a saudade que me aflige a mente / Não é de mim nem do passado visto, / Senão de quem habito / Por trás dos olhos cegos. // Nada, senão o instante, me conhece. / Minha mesma lembrança é nada, e sinto / Que quem sou e quem fui / São sonhos diferentes.
Van en la onda militar
los soldados al marchar
y la banda hace sonar
el cómo deben andar...
Voy en la onda que es la vida
con una banda escondida
tocándo cómo he de estar
entre esa marcha perdida.
Voy y duermo mi camino,
Como, en el son del molino,
duerme solo el molinero.
Duermo, pero me siento andar.
19-9-1933
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993). p. 89.
Texto original:
Vão na onda militar / Os soldados a marchar / Com a banda a lhes tocar / O como têm que andar... // Vou na onda que é a vida / Com uma banda escondida / A tocar como hei-de estar / Entre essa marcha perdida. // Vou e durmo o meu caminho, / Como, no som do moinho, / Dorme o moleiro sozinho. / Durmo, mas sinto-me andar.