Debe llamarse tristeza
Fernando
Pessoa (Deve chamar-se tristeza)
[120-32r] (19-8-1930)
Debe llamarse tristeza
esto que no sé qué sea
y me inquieta sin sorpresa,
saudade que no desea.
Sí, tristeza, pero aquella
que nace del conocer
que hay, a lo lejos, una estrella
y que cerca está el no tenerla.
Sea lo que fuere, es lo que tengo.
Todo lo demás está totalmente solo.
Y yo dejo escaparse al polvo que tomo
de entre las manos llenas de polvo.
Original:
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa,
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza — mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó..
Comentarios